Friday, September 08, 2006

Vai jogar ? Pergunte ao locutor !


Futebol pra mim não tem brilho nenhum já há algum tempo. Não sei se pelo fato de gostar de remar contra a maré e de preferir defender as minorias frente aos grandes pensamentos de uma maioria, ou se simplesmente por achar muito mais "esporte" em outros esportes que o chamado "esporte" do futebol. Acho que Donald Trump traduziria esse bretão "esporte" muito bem, diria "just business" !
Sempre gostei muito também da batalha psicológica que se trava na prática de um esporte, como a cabeça de um atleta é preparada antes de competição tão importante e tudo mais. Tem um livro escrito por um jornalista inglês, com prefácio de Carlos Arthur Nuzman, chamado "Deuses Olímpicos", que traz depoimentos de atletas do mundo inteiro que por uma razão ou outra se destacaram em alguma Olimpíada. Para quem se interessa pelo assunto, é um prato cheio e delicioso, afinal, não basta apenas o prato estar cheio.
O Brasil, na disputa feminina do Grand Prix de vôlei na Itália, está fazendo muito bonito. É a única seleção ainda invicta (escrevo esse post antes da semifinal de sábado, e até aqui é assim que está a seleção. Contudo, caso perca não mudará o que penso), está na busca do hexacampeonato e me foi revelada uma informação que me deixou muito mais fã de José Roberto Guimarães. Já sou fã do Zé há muito tempo, desde antes de ele partir para o futebol (no Corínthians foi gerente de futebol por um tempo curtíssimo, questão de meses). Lá, observou a robalheira, a falta de ética deste pseudo-esporte e saiu rapidinho, afinal um cara íntegro como ele é, não poderia mesmo ficar nesse meio por mais tanto tempo.
Vi todo o sofrimento do Zé quando perdeu a Olimpíada na Grécia, uma dor profunda, e que até agora ele deixa bem claro que ainda não superou. Não é como no futebol, onde se perde hoje a tarde, e os pseudo-esportistas estão em qualquer boate já na noite do mesmo dia tentando comer uma vagabunda qualquer e sair com seu carro importado. Em outros esportes ainda existe o sofrimento da perda, a verdadeira alegria da vitória, a verdadeira batalha pelo resultado.
Mas enfim, admiro muito mais o trabalho de Zé Roberto que o de Bernardinho. Para mim, tecnicamente falando (e eu já vi diversas vezes os treinamentos dados pelos dois às suas seleções) Zé Roberto é muito mais "técnico", treina muito melhor, ensina muito melhor, tem conhecimento de posicionamento muito maior, e detalhe, consegue fazer isso tudo com um time feminino que tem uma série de peculiaridades. Sim elas ficam menstruadas, sim elas tem variações de humor maior que os homens, sim não dá para gritar com elas como se grita com homens. Querendo ou não querendo há uma série de diferenças, e quem me disse isso foi o próprio Zé Roberto. A diferença pra mim era justamente o psicológico. Bernardinho gritando daquele jeito fora de quadra emociona, impulsiona, levanta o astral dos jogadores, anima ! Esse é o diferencial, a pegada emocional e psicológica. Tanto isso, que depois do Brasil perder para Cuba na Grécia na chance de ir para a final da Olimpíada, não conseguiu se erguer na partida seguinte e perdeu para Rússia na disputa pelo bronze. Faltou mexer no psicológico, faltou, e isso todas as jogadoras me confirmaram, estavam sem o "psico" inteiro para o jogo.
Voltando à revelação que me deixou muito feliz, é a que comprova que Zé Roberto evoluiu neste aspecto e muito. No Grand Prix, ele simplesmente não escala o time. Treina as 14 jogadoras, e elas só descobrem quem vai jogar quando o locutor da quadra anuncia os nomes das escaladas para o jogo, ou seja, minutos para o início da partida. Sensacional ! As próprias jogadoras já estão dizendo que o método está aprovadíssimo. Todas treinam como se fossem jogar, todas tem tudo para entrar, não treinam separadas (titulares x reservas), são todas titulares. Método inovador, arriscado, e o melhor comprovadamente já deu certo. Prova disso é que o time está invicto há 10 jogos, é a maior série da seleção brasileira em um Grand Prix. Bernardinho que se cuide !

1 comment:

Marina said...

Só tenho a dizer que são momentos como esse que me fazem querer voltar a jogar vôlei!!!!!